é normal e não é normal...

O QUE É NORMAL
• Qualquer não que ele ouve virar motivo para protestos, brigas, palavrões e chutes na porta do quarto• Matar aula, bagunçar na classe e chegar tarde da balada
• Ouvir o som no último volume e tocar bateria à noite para encher a paciência dos pais e daquele vizinho chato• Destratar a empregada da casa, não cumprimentar as visitas e soltar um desaforo para a tia que critica seu cabelo• Criticar a mãe porque a comida não está do jeito que ele gosta e o pai porque invoca com o jeito de o velho estacionar o carro• Se acabar na balada de sábado e dormir o domingo inteiro em vez de ir ao almoço de aniversário da vovó• Arrumar confusões com os colegas de escola ou nas festas• Jogar games em que o objetivo é exterminar de forma sangrenta o maior número de adversários• Estalar um beijo na testa da mãe meia hora depois de ter uma briga horrorosa com ela, como se nada tivesse acontecido


E O QUE NÃO É

• Quebrar de propósito a mobília e as janelas da escola ou destruir as coisas dos outros por puro prazer• Tirar dinheiro da carteira dos pais sem avisar• Usar drogas ou encher a cara toda vez que sai com os amigos• Sumir de casa por vários dias e só reaparecer para comer, largar a roupa suja e pedir mais dinheiro• Chegar em casa cada vez com uma namorada ou namorado diferente e se trancarem juntos por horas no quarto• Ameaçar se matar toda vez que é contrariado• Deixar de tomar banho, usar roupas sujas e descuidar da aparência• Deixar de fazer coisas de que gostava, como jogar futebol com a galera, ir ao cinema, ouvir música e sair com os amigos• Começar a ir mal na escola de uma hora para outra, mesmo nas matérias em que costumava ir bem

Eles Elas e todos nós..

No sexo, o medo de falhar, a angústia de não saber fazer, vergonha, timidez, a sensação de que a paixão imuniza contra tudo e contra todos, a tentativa de forçar um pacto de fidelidade, a troca de um risco pretensamente calculado pela vivência mais intensa do prazer, tudo isso faz com que, na hora H, a informação fique no fundo da gaveta, junto com o pacote intacto da camisinha.

a pressão dos amigos, o desejo de experimentar sensações diferentes, a promessa do passaporte para pertencer a uma turma, o desafio, a transgressão de regras e limites, o alívio de uma angústia, o prazer, a falta de opção para o lazer, o vácuo emocional nas famílias são fatores que condenam as campanhas e os trabalhos de prevenção ao esquecimento.
Em São Paulo não há fim de semana em que não se leia uma notícia de acidente fatal com jovens embriagados. Poucos meses atrás, uma batida de carro em uma das marginais da cidade chamou a atenção de especialistas. Um grupo de jovens morreu em mais um acidente. No bolso e na carteira de todos eles, camisinhas foram encontradas. Por que, de um lado, a prevenção estava lá no bolso, ao alcance das mãos, e, de outro, a imprudência de guiar embriagados acabou com a vida deles? Por que esse risco óbvio e imediato não foi enxergado? É como se uma pequena chave, um controle do racional, tivesse sido mudada de posição.
A informação traz o mundo da razão, o mundo das regras, o mundo do real para a vida do jovem. Talvez em alguns momentos ele queira justamente esquecer esse mundo real para viver em outro, mais livre, sem limites, mais lúdico, mais emocional, onde possa fazer o que bem quiser. Dentro dessa percepção distorcida, ele vê a informação como empecilho, como obstáculo, não como apoio e ajuda. Nessa hora, ele entende que a informação atrapalha e, assim, desliga esse filtro e deixa a vida exposta ao risco acontecer.
Os tempos modernos, nesse aspecto, também são mais cruéis. Talvez algumas décadas atrás, descontados certos mecanismos de controle social mais rígidos, o grau de transgressão (se é que esse indicador pode ser calculado) entre os jovens fosse muito próximo do que é hoje. Mas o mundo era menos agressivo e menos violento. As drogas menos disponíveis e menos potentes, os carros menos velozes e em menor quantidade, as ruas mais tranqüilas, a vida mais calma e menos competitiva. Tudo isso, arranjado de outra maneira, em pleno século XXI, aproxima o jovem do risco.
por jairo bauer